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Qual é o impacto do “Tarifaço de Trump” para as indústrias processadoras de aço no Brasil?

Escalada da guerra comercial entre potências pode abrir caminho para invasão de produtos estrangeiros no Brasil.

A decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de elevar tarifas de importação para diversos países, incluindo o Brasil, gerou uma onda de incertezas nos mercados globais. Anunciadas em 2 de abril, as novas tarifas “recíprocas” entraram em vigor na quarta-feira (9), variando de 10% a até 125% — no caso de produtos chineses.

As medidas foram rapidamente seguidas por retaliações da China, União Europeia, Canadá e outros países, desencadeando uma escalada de tensão comercial sem precedentes nos últimos anos. Especialistas alertam que o cenário pode afetar profundamente cadeias produtivas integradas, pressionar os custos de produção e gerar incertezas políticas e econômicas em escala global.

Para o Brasil, o impacto será indireto, mas não menos preocupante. A indústria processadora de aço deve enfrentar, nas próximas semanas, uma “invasão silenciosa” de produtos de outros países que perderam competitividade nos EUA e agora buscam escoar seus excedentes em mercados com alíquotas de importação menores — como o brasileiro.

“O verdadeiro risco para a nossa indústria não está nos EUA, mas nos portos por onde o excesso de produção global pode chegar ao Brasil. A China, por exemplo, tem cerca de 300 milhões de toneladas em excesso na produção de aço.. Esse volume precisa ir para algum lugar, e o nosso mercado, ainda pouco protegido, pode ser o próximo alvo”, alerta Ricardo Martins, presidente da Abimetal-Sicetel.

A preocupação com o tempo de reação do governo brasileiro é outro ponto de atenção. Segundo o executivo, ainda há uma aposta excessiva na atuação da OMC (Organização Mundial do Comércio), o que pode ser ineficaz diante da velocidade com que a disputa comercial se intensifica. “Quando uma decisão sai, muitas vezes já é tarde: a empresa já fechou, o mercado já foi tomado”, avalia Martins.

O executivo também destaca os efeitos combinados que o cenário internacional pode gerar no país: “O Brasil está sujeito a um duplo impacto: por um lado, a pressão inflacionária nos EUA pode afetar a política monetária global; por outro, a guerra comercial pode provocar uma recessão nos grandes centros econômicos, deprimindo os preços das commodities e aumentando a competição por mercados como o nosso”, explica.

De acordo com Ricardo, ainda, o Brasil já vem sendo afetado por uma onda de importações de produtos de aço — tendência que tende a se intensificar se não houver uma resposta estratégica do governo.

Atualmente, apenas algumas NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul) estão protegidas por tarifas de 25%, como bobinas, fio-máquina, arames e pregos. As medidas têm validade até maio de 2025 e são consideradas insuficientes pela Abimetal-Sicetel para conter o avanço das importações. “Precisamos de uma ação emergencial. A situação atual já é difícil, e o agravamento do cenário externo exige medidas adicionais para evitar um colapso ainda maior na indústria nacional”, defende o gestor.

A Abimetal-Sicetel defende a ampliação imediata das medidas de defesa comercial, com inclusão de novos produtos nas tarifas já existentes, além da articulação com outros setores industriais e com o Governo Federal para fortalecer a proteção da indústria nacional.